Movimento das ruas: crise de representação. Junho/2013

03/08/2013 10:40

Movimento das ruas aponta para a crise de representação

 

    As recentes manifestações de rua no Brasil, na esteira de outras tantas pelo mundo, expõem a insatisfação histórica de uma vida cotidiana de migalhas que não encontra pauta possível para abranger os desejos de superação do que está posto. Certamente tal anseio não passa por decisões institucionais, como as alardeadas pela mídia, ou aquelas relativas as mínimas melhorias no que diz respeito ao acesso a saúde e educação, pois a população quer um ajuste de contas de longa data da exploração ao qual se assentou a nação. Tal movimento se apresenta amplamente diferenciado daquele das “diretas já”, que após grandes batalhas nos anos de chumbo da ditadura militar, defendia a possibilidade de votar nas urnas para escolher seus representantes. Os gritos de “sem partido” refletem a infelicidade com a política institucional que prevê políticos profissionais eleitos, sendo uma superação dos anseios anteriores, que buscavam um acesso a democracia institucionalizada. Está claro para a população que os representantes respondem uma política hierárquica que precisa ser superada, se apresentando no momento como uma crise de representação.

 

    Nas manifestações, que se apresentam com uma diversidade de classes, tem sido perceptível que aqueles mais pobres e explorados pelo modo de produção tem buscado radicalizar o confronto com a polícia, pois sofrem cotidianamente com a repressão e buscam extravasar esse massacre sanguinário propiciado pelo Estado. A mídia tem destacado que estes são os vândalos que estão indo contra a ordem!  Veja que a leitura está correta: uma busca de superação da ordem está a caminho e só a luta pode mostrar até onde esse movimento pode chegar.  No caso da violência, reflitamos sobre a invenção do que conhecemos hoje como Brasil. Desde o início, sua fundação se deu com a violência, primeiramente com a dizimação dos indígenas, além dos mais de trezentos anos de escravismo e outros tantos de salário mínimo, refletindo em desigualdades extremas de classe no seio da sociedade.

 

O movimento de rua tem total legitimidade histórica, apresentando inúmeras possibilidades de ampliar a luta. Exemplos de lutas populares autoorganizadas não faltam, tendo em 2006 um grande movimento na construção da “Assembléia popular do povo de Oaxaca” no México, com propostas de substituição do Estado mexicano pelo poder do povo organizado de baixo para cima; ou até dos próprios Soviets na Rússia antes de 1917, que eram conselhos revolucionários que aglutinavam os trabalhadores como organismo de luta e proposta de organização social sem Estado.