NOTA DA ASSOCIAÇÃO DOS/AS GEÓGRAFOS/AS BRASILEIROS/AS SEÇÃO FORTALEZA CONTRA O PROJETO DE DESTRUIÇÃO DAS DUNAS NA SABIAGUABA

10/07/2020 14:32

 NOTA DA ASSOCIAÇÃO DOS/AS GEÓGRAFOS/AS BRASILEIROS/AS SEÇÃO FORTALEZA CONTRA O PROJETO DE DESTRUIÇÃO DAS DUNAS NA SABIAGUABA

 

          A Associação dos Geógrafos (as) Brasileiros (as) – AGB seção Fortaleza, vem manifestar total REPÚDIO em relação a votação do Conselho Gestor Sabiaguaba – coordenado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA) – realizada no dia 08 de julho, onde foi aprovado um projeto de loteamento em Área de Proteção Ambiental (APA) da Sabiaguaba, na zona de amortecimento do Parque do Cocó, município de Fortaleza - Ceará.

            Isto representa o desmatamento de mais de 50 campos de futebol de florestas, onde habitam centenas de espécies de plantas e animais, muitas ameaçadas de extinção, outras endêmicas do Estado do Ceará. Além disso, existe um grande campo de dunas vegetadas, que integram 17% das dunas que ainda existem no município de Fortaleza. As dunas, que são áreas ambientalmente frágeis, apresentam fortes problemas relacionados ao uso e ocupação, pela alta susceptibilidade aos processos degradacionais e baixa capacidade de suporte.  A decisão irresponsável do referido Conselho pode representar, também, a destruição integral dessa área, o soterramento das lagoas interdunares, de área de apicum de manguezal.

            Esta área representa um ponto de conflito e injustiça ambiental, incidindo em recentes ameaças de morte a ambientalistas envolvidos na preservação das Dunas da Sabiaguaba e, há muito, vem sendo ameaçada pelo poderio do capital especulativo imobiliário, que trata as áreas ambientais da cidade de Fortaleza como mera reserva de capital. Não se protege a natureza, apenas guarda-se para valorizar e no momento oportuno devastar e vender, intensificando a saída do capital em tempos de crise que é a apropriação privada da natureza.

            Outrossim, este local não foi alcançado por mecanismos de institucionalização, como a delimitação da poligonal do Parque Estadual do Cocó ocorrida no ano de 2017. Fato amplamente denunciado por cientistas e ambientalistas cearenses.

            Exigimos uma mudança de postura dos chefes dos Executivos da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado, a fim de que impeçam a continuidade desse projeto nefasto de destruição das Dunas da Sabiaguaba, contrariando a estapafúrdia decisão do Conselho Gestor dessa área.

            Repudiamos veementemente o resultado da votação em questão. A decisão da maioria dos conselheiros é digna de vergonha e deve ser barrada imediatamente, não representando o sentimento e anseios da população de Fortaleza sobre a questão.

            Ao contrário, em um momento marcado por uma crise ecológica e sanitária oriunda do Corona vírus a população precisa é de cuidado com o meio ambiente, com as pessoas, fauna e flora. Esse episódio intensifica o discurso bárbaro dos interesses do capital sobre os seres vivos, o que representa o pandemônio do lucro a cima da vida, como estamos vendo em relação as mortes do povo brasileiro pela COVID-19.

            Denunciamos que o atual e trágico momento de pandemia tem sido aproveitado como desculpa para que seja passada a “boiada” infralegal das pautas de destruição do meio ambiente, não apenas em nível Federal, uma vez que o episódio que ora se apresenta, escancara essa patética realidade, também em nível local.

            A quem servirá esse projeto de loteamento? Aos interesses dos grandes grupos imobiliários representados por meia dúzia de pessoas ultra ricas de Fortaleza e do Ceará? Ao turismo predatório? A quem interessa isso? Por que o poder público insiste em garantir o interesse dos mais ricos em detrimento dos empobrecidos ou injustiçados(as)? E os pescadores, comunidades residentes na área serão beneficiadas com tal projeto?

            Como ter credibilidade nesse Estado que representa os interesses dos grandes ricos em detrimento da vida? Como acreditar no conselho que têm por finalidade gerenciar e defender o meio ambiente e as populações e faz exatamente o contrário? E a SEUMA e os outros órgãos de proteção ambiental? Efetivamente o que vemos é esses órgãos defendendo os interesses dos grandes grupos econômicos.

            A AGB Fortaleza toma partido pela natureza e pela vida, rejeitando qualquer discurso utilitário da natureza que influência sobremaneira as decisões do poder público em detrimento de grupos privados. O projeto de destruição das Dunas da Sabiaguaba não deve passar!

 

Fortaleza, 10 de julho de 2020.

 

ASSOCIAÇÃO DOS/AS GEÓGRAFOS/AS BRASILEIROS/AS – AGB FORTALEZA

GESTÃO 2018-2020