AGB-Fortaleza e as lutas de comunidades

21/10/2013 19:27

No Ceará a reestruturação espacial vem agindo com força total, infligindo leis e direitos de comunidades tradicionais em prol de grandes obras com interesses alheios ao do espaço social... Exemplos são as obras para copa do mundo, como a construção do VLT, no qual as comunidades vêm travando uma luta muito árdua contra as arbitrariedades do governador cid gomes... ou comunidades de pescadores, como na prainha, que vem lutando contra remoção para energia eólica, ou nas praias no qual estão sendo construídos grandes resorts, como no cumbuco e mundaú, dentre outras... em todas as obras percebesse um choque entre o espaço abstrato e o espaço social... 

 

Pensando as contradições do/no espaço, a AGB-Fortaleza vem ativamente participando da luta por baixo, junto às comunidades, priorizando as lutas sociais dos oprimidos... não tencionamos aparecer como a salvação técnica ou mesmo burocrática em fóruns de representação que servem apenas para legitimar o discurso e os interesses estatais... 

 

Nesse último fim de semana foi organizada uma atividade de integração entre os movimentos de luta contra os despejos das comunidades do trilho de fortaleza e a comunidade baixio das palmeiras (distrito rural do Crato)... As atividades ocorreram na Universidade regional do cariri, na cidade do crato e na própria comunidade (baixio)... a atividade foi muito positiva pensando na troca de saberes(experiência) entre as comunidades, haja visto ambas estão sofrendo grande pressão para assinar papeis de indenização, em total arbitrariedade com as leis que ainda estão sendo analisadas na justiça... 

Na urca agente fez no formato de um fórum, uma roda de conversa com o pessoal do baixio e mldm pensando encaminhamentos e propostas práticas para a luta...na própria comunidade o debate foi melhor, pois os membros da comunidade dos trilhos que estão lutando contra a copa do mundo e se organizaram com o movimento de luta em defesa da moradia de forma autônoma e independente de partidos políticos, conseguiu levantar um debate sobre a luta de classes nesses processos de despejos... Acho muito positivo a auto-organização das comunidades, mesmo que seja por direitos, eles se colocam como sujeitos na luta, se debatendo contra as cadeias que os prendem...

 

ABAIXO nota da comunidade baixio das palmeiras relatando sua luta...

 

Abraços!

Rodrigo – AGB FORTALEZA

 

 
CONTRA OS DESPEJOS DO CAC/TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO
“SOMOS TODOS BAIXIO DAS PALMEIRAS”
 
ASSOCIAÇÃO RURAL DO BAIXIO DAS PALMEIRAS
CNPJ N° 00.792.326/0001-07
 
 
A Associação Rural do Baixio das Palmeiras vem a público denunciar as ameaças de despejo que nossa comunidade vem sofrendo, por conta das obras do Cinturão de Águas do Ceará- CAC, por onde vão chegar as águas da transposição do rio São Francisco no Estado do Ceará. É inaceitável que uma obra dessa magnitude seja executada sem nenhum diálogo nas comunidades atingidas. No distrito de Baixio das Palmeiras, município de Crato, as várias comunidades que serão diretamente afetadas pelo CAC não foram consultadas, nem devidamente informadas sobre os impactos da obra.
As poucas reuniões que ocorreram foram realizadas a partir da pressão da própria associação. Mesmo assim, ainda há muita contradição entre as informações dos trabalhadores responsáveis pelo estudo com as informações fornecidas por Mônica Holanda Freitas, coordenadora de infraestrutura da SRH – COINF, Sâmia Pinto, engenheira civil – VBA e Jacira Marta Vieira, assistente social/VBA.
Os estudos preliminares indicavam que aproximadamente 120 famílias seriam removidas, apenas no distrito, sem contar com as outras comunidades através da qual a obra vai passar. Com a resistência, esse número caiu pra cerca de 17 famílias. Mas não somos ingênuos, estamos na luta até o fim. Somos, em sua maioria, camponeses, pessoas simples que terão suas memórias e suas identidades comprometidas caso a obra se concretize; perderemos o vínculo com a nossa história.
Nossas famílias já foram violadas de inúmeras formas pelos funcionários da obra, desde o ato de marcar nossas casas sem nenhuma autorização, até tentar que nossas famílias assinem documentos de desapropriação como se fossem questionários. Agora eles tentam as velhas manobras de tentar se infiltrar na comunidade na tentativa de manipular e dividir as opiniões.
Além de tudo isso, a resistência também se dá em favor da natureza, contra as grandes obras. No distrito há resquícios de matas nativas, fontes de águas e riachos que são fundamentais para a prática agrícola. Em algumas encostas dos riachos encontram-se camadas de fósseis da formação Romualdo, muito comum na Bacia Sedimentar do Araripe. No passado havia uma intensa exploração dessas pedras para a construção civil, mas, atualmente, esses vestígios paleontológicos encontram-se relativamente preservados.
No distrito também já foram encontrados diversos vestígios arqueológicos: peças de cerâmica, machadinhas, inscrições em rochas, etc. Infelizmente, o CAC pode destruir esse patrimônio histórico da Região do Cariri.
 Finalmente, é preciso deixar claro que nós, moradores do distrito, entendemos que nossa relação com o passado não pode ser ignorada. Fomos invadidos, os moradores foram desrespeitados. O cadastro de desapropriação foi feito de forma sigilosa, enganando os moradores e aqueles que não o fizeram estão sendo ameaçados de serem despejados sem direito a indenização. Mas somos fortes na luta, vamos resistir!
 
 
APOIO TOTAL AS LUTAS NO CEARÁ E NO BRASIL
 
As recentes manifestações de rua no Ceará e no Brasil em compasso com outras tantas pelo mundo, expõem a insatisfação histórica com a desigualdade social implantada no seio do país.  Várias comunidades espalhadas no estado do Ceará estão passando por todo um sofrimento causado pelo governo autocrático de Cid Gomes, que tem compromisso apenas com os grandes conglomerados industrial e com o agronegócio.
Com sua política pseudo-desenvolvimentista, de caráter segregador e excludente para com as populações pobres, o governador tem anunciado grandes obras previstas no pacote federal do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, como a de transposição das águas do Rio São Francisco, a qual, aliás, estamos resistindo, bem como inúmeras outras relativas ao turismo.
Desde o anuncio da copa do mundo de futebol 2014 e das olimpíadas de 2016 o Brasil vive um clima de terror, principalmente nas comunidades pobres das grandes capitais que sofrem o pavor do anuncio de seus despejos para grandes obras, em áreas justamente de grandes interesses imobiliários. Em Fortaleza temos notícia de resistência das comunidades do trilho contra os despejos para a construção de um VLT, construindo um movimento de luta auto-organizado pela própria comunidade, como o Movimento de luta em defesa da moradia – MLDM.
A única saída para combater os desmandos do governo é a resistência contra os interesses dominantes. Nossa resistência vai se construindo na luta, não delegando nenhuma função de nossa luta aos representantes políticos, que já mostraram total incapacidade de lidar com os problemas sociais.
Portanto, estamos juntos a todos aqueles que resistem contra a política falida realizada no Brasil.